Outro dia alguém criticou a minha fé, a pessoa estava convencida de que não era cristianismo a minha vivência católica, disse-me que eu precisava conhecer a verdade. Fiquei me questionando sobre qual verdade ela falava, pois certamente carregávamos verdades diferentes. Naquilo que ela tinha como verdade eu reconhecia um claro sinal de intolerância. A minha fé se fundamenta numa Palavra que gera vida, que nunca acusa ou exclui, que não condena ou agride, mas que tem como princípio primordial ser geradora de dignidade para as pessoas. A vida plena que Deus trouxe para a humanidade em Jesus Cristo não pode ser condenatória senão ela perde seu status de libertadora. A verdade que eu acredito não se impõe, não faz exigência, não faz acepção.
É impressionante como tantas pessoas têm a tentação de querer doutrinar até mesmo a Palavra de Deus dentro das suas próprias concepções, como se a elas pertencessem o direito de torcer o Evangelho, às vezes manipulá-lo, para que ele se enquadre dentro de uma visão particular ou de um grupo.
Não há espaço para intolerância numa sociedade como a nossa, não temos o direito de dizer ao outro que a sua fé é enganosa quando ela não coincide com a nossa. Se temos uma novidade para apresentar às pessoas, ela deve ser apresentada na gratuidade. Como cristão católico eu não tenho dúvida de que o Evangelho de Jesus Cristo seja uma novidade libertadora para mundo, mas isso não quer dizer que nós cristãos somos detentores, guardiões de uma chave única, muito menos acredito que ela exista. Quando estamos dispostos a anunciar em toda a parte o olhar cristão devemos tomar consciência de que as outras igrejas, as outras religiões, filosofias de vida, também têm algo para contribuir, para acrescentar à nossa fé, para ajudar na construção de uma nova humanidade.
De acordo com o documento Dignitatis Humanae, Declaração sobre a Liberdade Religiosa, “é patente que todos os povos se unem cada vez mais, que os homens de diferentes culturas e religiões estabelecem entre si relações mais estreitas, e que, finalmente, aumenta a consciência da responsabilidade própria de cada um. Por isso, para que se estabeleçam e consolidem as relações pacíficas e a concórdia no gênero humano, é necessário que, em toda a parte, a liberdade religiosa tenha uma eficaz tutela jurídica e que se respeitem os supremos deveres e direitos dos homens quanto à livre prática da religião na sociedade” (DH, 15). O mundo de paz e fraternidade que tanto sonhamos se constrói com gestos de todos e cada um.
Um dedo que aponta e acusa, impositor, não compreendeu ainda que no mandamento jesuítico de amar o próximo como a si mesmo está contida outras ações como respeitar e acolher. No final de tudo eu acredito que as preces originárias da honestidade interior e da bondade de cada homem serão acolhidas pelo mesmo Coração.
Fonte: http://www.msc.com.br/a-minha- fe-se-fundamenta-numa-palavra/
Por Fr. Girley de Oliveira Reis, mSC
Por Fr. Girley de Oliveira Reis, mSC
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