Pelo menos alguma vez na vida todo mundo ficou pensativo e disse: “É, o tempo passa depressa”. Mais que passar, ele voa. Os romanos diziam: “O tempo foge de forma irreparável” (Fugit irreparabile tempus). Traduzindo em miúdos: o tempo passa e não volta mais.
Costumamos dividir o tempo em três partes: passado, presente e futuro. Ocorre que o passado já foi e o futuro ainda não veio. O que sobra? Sobra o momento presente, que é menos do que um momento e, por isso, não dá para medir: ele foge, e já é passado.
Parece incrível, mas a nossa vida é feita desses “momentos” imperceptíveis. Os relógios e outros instrumentos de medição tentam captá-los, mas é pura ilusão. O tempo, de fato, foge irreparavelmente.
Deixemos que os filósofos discutam sobre o que é o tempo. Também os cientistas se ocupam disso. Nós, discípulos/as de Jesus, olhamos o tempo com outros olhos, os olhos da fé: isso é o que nos importa.
Sabemos que para os antigos pagãos o tempo correspondia a ciclos – a círculos – que se repetiam sem cessar: o que já foi, um dia será novamente, ensinavam; os pagãos de hoje também pensam mais ou menos assim.
Santo Agostinho, comentando esse modo de pensar, afirma de maneira estupenda: pela ressurreição de Cristo, “esses círculos explodiram”. Ou seja, Cristo libertou os seres humanos, que eram reféns de um tempo repetitivo e, portanto, se sentiam dominados pelo destino. Jesus ressuscitado nos insere num tempo evolutivo que, partindo de Deus, nos leva para Deus.
O destino não existe, o tempo não é repetitivo. O tempo é o “espaço” em que nós, discípulos/as de Jesus, ao segui-lo, colocamos nossos pés nas suas pegadas e vamos a caminho do Pai. Percorremos, assim, o mesmo caminho de Jesus, que disse: “Saí do Pai e vim ao mundo; agora deixo o mundo e volto para o Pai” (João 16,28).
Assim, o “tempo” da nossa vida escorre entre duas eternidades. Não no sentido de que nós sejamos eternos, como Deus o é, mas no sentido de que a nossa vida é obra do Deus eterno, e o nosso destino consiste em participar, na medida das nossas capacidades limitadas, da eternidade de Deus para sempre.
Portanto, para compreender com exatidão o que é o tempo para nós é preciso que levantemos outra questão: qual é o sentido da nossa existência? Não teria sentido Deus criar seres semelhantes a ele para viverem sem sentido. Em outras palavras, o tempo é a “ferramenta” para construir a minha existência de acordo com os planos dAquele que me deu a existência.
Sendo assim, cada partícula do tempo pode – deve! – ser um “tijolinho” acrescentado à minha construção. Essa construção tem como alicerce nada menos do que Aquele que, sendo eterno, veio morar no tempo e nos ensinou a usá-lo para a glória do Pai e o bem dos irmãos e irmãs.
Por isso, perder tempo, gastá-lo em futilidades, pior ainda, em fazer o mal, é realmente caminhar na contramão: a trombada é certa! Ao passo que fazer o bem, por mínimo que seja, será um “tijolinho” a mais na construção do edifício da minha vida e, portanto, na casa da felicidade eterna. Cumprir, com Jesus, a vontade do Pai, este é para nós, discípulos e discípulas do Senhor, o sentido da nossa existência e o melhor emprego do tempo.
Cada ano nós medimos o tempo da nossa vida, fazendo festa. Com razão, porque a vida é um dom; o tempo é um dom. Temos, pois, motivos de alegria e de gratidão ao Pai de todos os dons. Sem dúvida, também temos que pedir perdão por termos usado mal o tempo ou por tê-lo perdido em futilidades. Por fim, que Ele nos conceda mais tempo; particularmente, nos conceda usar bem do tempo, para sua glória e para a nossa felicidade.
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